A CUIA

A "Cuia”, todos conhecem

Mesmo assim eu vou falar,

Porem o que vou contar

Desse uso da Tradição,

Sua seiva e chimarrão

O liquido primitivo,

Que deixa o povo cativo

Deste Rio Grande Pagão!

Quantas vezes. . . Eu me lembro

Oh "cuia" de chimarrão,

Passavas de mão em mão

Num prodígio, num afago,

Depois. . . depois vinha o trago

Pra esquecer o dissabor,

E contigo eu curtia a dor

Da saudade do meu pago.

A "cuia” com chimarrão

Completam-se dais a dois,

O mesmo que jugo-de-bois

Sorvendo distancia longa . . .

E a cada arranco de bomba

Do amargo que o povo toma,

Se sente mais uma doma

Do gaúcho que nunca tomba.

No ronco do teu seival

Quando a goela vai chegando,

Sinto potros corcoveando

Como pranto de chinoca,

Índio algum jamais te troca

Contendo erva e água quente,

És a razão do vivente

Quando o passado ele evoca.

Pois até tenho ciúmes

De "Ti", da bomba de prata,

Da maneira que te trata

Queridos Lábios rosados,

Entre beijos compassados

Sorvendo a seiva bendita,

Penso. . . Será que a chinita

Lembra os carinhos passados? . .

E quando uma china linda

Solicita explicação,

Da "Cuia" e do chimarrão

Duas crias deste pago,

Então, recordando eu trago

Velhos recuerdos queridos,

Que já vão quase esquecidos

Pelas tropilhas do amargo.

Chinoca, a "Cuia" morena

Tem o feitio do teu colo,

E é nela que me consolo

Pelas artes que me ensinas,

E se o porongo reclinas

Numa devoção de outrora,

É a própria Mãe Senhora

Que te abençoa e divina.

O mate-doce e o chimarrão

São duas almas unidas,

Um - nas campanhas perdidas,

Outro - no lar beira-chão,

Gaúcho e china em união

Criados ao sopro do vento,

Mesclaram o pensamento

No seival da Tradição.

Na Minh’ última cambiada

Quando eu for pro Chão Sagrado,

Se ao redor que for velado

Não tiver o chimarrão,

Se a "Cuia'', de mão em mão

Não tiver passarinhando,

Para Deus eu vou implorando

Quero tê-la em meu caixão.

A "Cuia", eu levarei ungida

Para a outra invernada agreste,

Pedirei ao Patrão Celeste

Um ranchito de ataveu,

Quero também por troféu

Um jogo: trempe e chaleira,

Quero sombra de primeira

Pra chimarrear pelo céu.

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 30/07/2014
Reeditado em 06/11/2020
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