"corpo véio esgalepado"

É um frio de rengueá cusco

nesse Rio Grande campeiro

vô pra frente do braseiro

tentando me aquentá

chuleando a água chiá

prá um mate bem cevado

"corpo véio esgalepado"

querendo encarangá.

Fiz o tal escalda pé

sentadito num pelego

tá findando o meu sossego

com essa arage danada

co'a boca toda rachada

e os garrão esbudegado

"corpo véio esgalepado"

se entregando pra geada.

Meu galo não canta mais

pois tá com pneumonia

minha égua perdeu a cria

Galinha não qué ponhá

a vaca leite não dá

pescaria é passado

"corpo véio esgalepado"

vendo tudo se findá.

Pegando a faltá corage

um índio deita o cabelo

co'a sorte por sinuelo

e o pingo pela rédia

mais pra mantê minha média

nesse inverno abagualado

"corpo véio esgalepado"

foi-se o pingo, que trajédia...

Vô apelá pro batuque

oração e benzedura

porque a côsa tá escura

de vivê cá nessa terra

o bom cabrito não berra

diz assim um veio ditado

"corpo véio esgalepado"

já quase perdendo a guerra.

Só me resta o consolo

que co'essa friosidade

não tem faltado vontade

de em riba da cama eu tá

em sem querê me gabá

nos lençol eu so laureado

"corpo véio esgalepado"

deita e dorme prá roncá.

Tabajar Carvalho
Enviado por Tabajar Carvalho em 26/08/2013
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