No encanto de um domador

Era bem cedo, ainda o sereno se levantava

Pelo galpão ainda sem garras dom Inácio

Cuidava pela hora a lua e um mate cevava

Prenunciando o dia por inicio.

Depois que o sol começou a riscar o céu de garras

O mesmo foi fazendo pelo galpão.

Saiu de buçal na mão arrastando esporas pela terra

Que ainda molhada abria sulcos no chão.

Na mangueira o Macário ainda fazia a forma

O patrão da cerca cuidava dos potros novos

Que vieram cambiados da banda oriental, ainda disforme

O Macário foi ajeitando num canto, já tirando os assombros

De algum que se assustava das cordas.

Dom Inácio veio vindo sereno pensando além

O patrão já ordenando o serviço pelas horas.

Nisso um baio oveiro, se alvoroto também.

Que já sabia que aquele era o mais maula.

E o Inácio sem pressa, já parou e disse:

Esse baio é meu, hoje deixa de ser maula,

E vira potro manso... bem esse.

O Macário já foi embuçalando agora por primeiro

Que foi atando pelo palanque da frente.

Que Don Inácio parou pela frente, do baio oveiro

E solfejou um copla que veio de dentro da mente.

O potro por xucro foi se parando pelo som

Que saia da boca, que o Inácio soltou

Que o baio saiu pra o lado ligeiro, sem tom

Escavou com a mão o chão e voltou.

Veio como um cusco pra o lado

Sem corda sem nada foi no caminho

Que parecia um encantamento, indo no costado

Do Inácio pelo trilho.

O patrão não acreditou, na cena do domador

Somente ficou quieto perto da cerca da mangueira.

E no ramadão do galpão, com um jaleco de flor

Foi encilhando, mirando a porteira.

Que depois montou e saiu pelo campo

Foi ao trote, sem dar um pulo pela volta.

Que o sol da manha ficou pelo tempo

E pela sombra do bastos a escolta.

Que na volta depois vira pra os dois lados

Voltou com calma pelo olhos do patrão

Que não acreditava no que via nos olhos

Que quando Inácio chegou no galpão.

Perguntou, sem floreio sobre o baio oveiro.

Don Inácio apeando só respondeu.

Só sabe quem monta e se é campeiro.

E pensa que sou feiticeiro, eu.

Não! só sei de bocais e potros

Que entrego manso pra o senhor.

E não sou como outros....

Que se pilchão só pra dizer que são domador

E somente saem no domingos.

Sem saber de boca e doma.

Ginete
Enviado por Ginete em 24/03/2012
Código do texto: T3574148
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