A chegada do gado

(para lembrar Guimarães Rosa, que encarnou com toda arte a cultura e a

linguagem do sertão mineiro e brasileiro)

A Chegada do Gado

O silêncio da estrada

recebe os primeiros sinais

voz de boiadeiro

mugido de animais

Aos poucos clara visão

desponta do alto da serra

e ao se chegar ao terreiro

o ofício se encerra

Desta vez queria ser

João Guimarães Rosa

e em verso e prosa contar

o sentimento da boiada

ao se ver num novo lar

O ritual de chegada

ocupa todo o espaço

e o cansaço de agora

parece libertação

Aos cavalos no esteio

afrouxamento do arreio

água, milho na cuia,

sede e fome não perdoam

Depois água farta no lombo

e o peso da carga se escoa

No corgo água fresquinha

pras novilhas e garrotes

e pros cavaleiros purinha

água de mina no pote

Só o roseano talento

narraria com destreza

as aventuras contadas

no reencontro à mesa

regado a café com quitanda

e um rosário de surpresas

Ida bastante aturdida

estrada desconhecida

pernoite arranchados

caminhos desencontrados

Vinda’inda mais sofrida

inexperiente ajudante

extravio, assovio, berrante

cavalo empacado,

gado cansado,

tempo fechado

Ninguém que benzesse chuva

trovão, corisco, enchente

Nos perigos da travessia

aos santos de fé se pedia

Deus adiante e paz na guia

Não é nenhuma miragem

que às vezes a mente traz

são estórias de coragem

em detalhes relatadas

toda vez que o grupo chega

das longas viagens que faz

Maria do Carmo Fraga(MarianaMendes)
Enviado por Maria do Carmo Fraga(MarianaMendes) em 29/05/2021
Reeditado em 08/06/2023
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