SAUDADES DO MEU ANTIGO SERTÃO

Quando retornei ao meu sertão

Como ocorre com todo nordestino

Quis reviver o meu tempo de menino,

Mas grande foi a minha decepção.

Não há mais fogueira de São João,

Nem a música raiz tão brasileira

O que há é uma enorme barulheira

Que alguém apelidou de forró.

Que tristeza eu senti e tive dó

Da nossa tradição tão altaneira.

É triste ver a atual realidade

De um povo tão forte e tão valente

Que se deixou levar ingenuamente

Por essa dita modernidade.

Eu sofri e chorei com saudade,

Revendo a velha casa dos meus pais

De tudo aquilo que não existe mais:

O canto de um galo de campina

Uma rezadeira chamada Severina

Nem acauã a cantar nos juremais.

Não há mais sanfona gemendo ao luar,

Nem tampouco o lume de um candeeiro,

Nem o aboio perdido de um vaqueiro

Nem violeiro cantando um beira-mar.

Fiquei decepcionado ao constatar

Que na minha tão poética região

Não se escuta sequer mais um baião

nem reza bem rezada duma novena.

O que se ouve dizer à boca pequena

É que globalizaram também o sertão.

O velho jegue foi abandonado

Foi trocado por uma motocicleta.

Houve uma revolução completa

Acabaram com o nosso passado.

O meu sertão está todo mudado

Perdeu-se toda aquela essência,

Só se vê uma terrível violência.

De forma generalizada e fria.

Devolvam-se por favor minha poesia:

implora a terra pedindo por clemência.