[espaços liminares]

encontramos solitários

os espaços que antes fervilhavam

de alegria e vivacidade

cada pessoa um astro

cada família uma constelação

nesses corredores

outrora lotados e febris

ressoam os passos no vazio

em longas travessias

monótonas

um pier vazio ao pôr do sol

ruas abandonadas em fins de semana

uma sala de estar limpa mas estéril

piscinas aguardando

as crianças com boias

sento-me

num banco em um canto distante

concentrado

- em quê exatamente?

nos problemas da vida ou iminência da morte?

será o fim

o que valida o ciclo vital?

retornaremos ao vasto

ao escuro vazio do nada?

talvez a lembrança de um dia distante

ou o medo do vácuo ser povoado pelos espíritos

o que importa

é que a vida é uma longa sala de espera

trânsito sem fim entre incontáveis pontos

e só há um verdadeiro vazio

S

I

L

Ê

N

C

I

O