Um dia tortuoso

Dei com ela na porta do quarto, fato raro! O susto foi grande demais. Arregalei os olhos para constatar que era mesmo verdade o que me parecia tão absurdo. Não disse uma única palavra. Apenas observei com nítido desapego a tal esfinge. Não sabia se ria ou chorava. Aquela figura esguia e pomposa parecia querer levar-me para a clandestinidade. Relutei intensamente agarrado ao estrado do catre que chegou a ranger, como se estivesse com bruxismo. Repeti para mim mesmo, por centenas de vezes, naqueles poucos segundos que nos separavam: realmente ela gosta de mim ou foi apenas um mero e ligeiro acaso que nos colocou frente a frente em um momento tão íntimo como aquele? Não que eu não soubesse de sua presença pelos arredores de dias passados. Sua presença era fato consumado em todos os cantos e cômodos da casa. Isto era discutido e falado entre quatro paredes. Não havia segredo até então. Cheguei a levantar a hipótese de que tudo aquilo, não passava de um ruidoso engano. Tal a gravidade do fato que ora batia em minha porta com força bruta. Pensei… Ela haverá de entender os meus medos, que não são poucos. Fechei os olhos quando ela me disse: __ Não há engano.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 27/03/2024
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