Velhice

A velhice assusta até bicho de goiaba. Mas existe um consolo: seremos todos velhos se tivermos a mesma sorte. Lá, não sei onde, estaremos juntos, na mesma solidão. A vida é como escrever: cada passo é um corte, cada palavra é uma sentença de morte. E não tem como fugir disso ou daquilo, a farinha é sempre do mesmo saco, o que difere é a mandioca. O que, de fato, me dói na pele, são as batidas irritantes dos relógios que não param e, se pararem, não adianta. __ Que espécie de homens nós somos?! Eu, por minha conta e risco, me considero um sobrevivente. __ O que quero dizer com isto, afinal? Estamos vivendo em um país meia-boca: cada um por si e todos por ninguém. E assim, a carruagem passa com seus cavalos pomposos e felizes. Do outro lado da rua estão os outros. __ E quem são os outros? Gostaria de saber, mas penso que não tenho mais idade para tudo isso.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 25/03/2024
Reeditado em 26/03/2024
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