MALDIÇÃO DO NÃO LEMBRAR-SE

Voa coruja, mocho, bruxa

Ave noturna na noite sem lua

Voa coruja, e com seus três pios agourentos

Pousa naquela janela onde reside o egocêntrico

A falta de compaixão que, inebriada pelos venenos amargos

Da ganancia e do poder,

Que distorce, entorpece e enegrece

A alma daquele ser

Que precisa sozinho estar, pois sozinho é

Sozinho, centralizar o seu poder

E reter só, para si

O que é de todos e para todos

Rasga-mortalha branca

A voz de Hecate que amaldiçoa e encanta

Os meandros do tempo e espaço

Que aprisionam a triste musa

Que, ao contrário de ser

Por todos exaltada e compartilhada,

É retida para só si e tem a voz calada

O pano do passado

É então, definitivamente rasgado

Para que a musa vendada e estupidamente aprisionada

Não o deixe ver mais nada

Muito menos, lembrar-se

Da coruja que expulsaste

Sua Sabedoria

Sua Sorte

Sua Suindara

E, enquanto, suas brancas asas

Para longe voam...sacerdotisa de todas as Artes

Tudo vai ficando cada vez mais distante,

Mais sombrio e esquecido

A vida, aquela que dá voltas

Se mostra uma encruzilhada trina

E, a sua morte,

Canta e brinda a Suindara.

Simoni Dimilatrov

Santos, 07 de dezembro de 2016