"POEMA HIPPIE 05"

Alguém chegou falou e me balançou,

Eu estava tão desmaiado, tão morto,

Ainda vivo, ou o que de mim restou.

Eu Miro, ainda Miro, num chão tosco,

Olhei o céu e não tinha céu, nem sol.

Tinha apenas o teto amarelo de lona

E vozes ao longe, que este Miro escutou.

Levantei-me rápido logo em seguida

Saí para o sol, respirei do ar a pureza,

Inalei sonho do sonho, respirei a vida.

Meu Deus quanta vida quanta beleza,

Eu sem sentidos via as horas perdida

Não roubadas pelo senhores da realeza,

Mas trocada pela minha mágoa sentida

E todos estavam ali no acampamento

Riam olhando para mim, “diabo louro”

Riam com graça e choro, sem fingimento.

Olhavam para meu cabelo farto e louro.

Passei a mão na cabeça, foi-se o alento,

Estava raspado o meu bem criado couro

Sem piolhos sem restolho, só o lamento.

Aí que eu me lembrei da noite passada...

Barracas e festa a novena comemorando

Coisas tão normal na cidade engalanada.

Vamos vender toda miçangas sobrando,

Diabo louro faz a propaganda na parada

Vamos comprar tudo o que está faltando,

Inda comprar mais capim pra rapaziada.

Fita verde na testa prendia o meu cacheado

Uma calça Lee tão velha quanto desbotada,

Precata roda, sola é corda de sisal trançado,

Na cinta os colares e pulseiras dependurada.

Atraiu o brotinho que era filha do delegado,

Nisto chegou a policia com a cara amarrada

Leve para o xadrez este maconheiro safado.

Reviram os bolsos e encontram um canivete

De descascar laranjas e entalhar na madeira,

O vagabundo está armado pau neste pivete

Toalha molhada para não causar sangueira

Corta todo cabelo deste Hippie mequetrefe

Salvou foi um padre que era o chefe da feira

Suma desta cidade e carreguem o moleque.

Lá vai o bando de ciganos Rio Bahia seguindo

Vivendo as margens da estrada em construção

Simbora conhecer o Rio de Janeiro que é lindo

Vamos para a cidade Grande, lá tem civilização.

Esperança de alcançar uma paz que ia fugindo,

O amor a gente carregava dentro do coração

Mas paz a gente não estava mais conseguindo.

***Precata roda como às chamavam a pobreza que as usava.

Na verdade o nome correto era "Alpargatas Rhodia, Rhodia era uma agrande fábrica de calçados de S. Paulo".

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 01/08/2023
Reeditado em 01/08/2023
Código do texto: T7850922
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