Tornar-se o que se quer: uma grande, amada, mulher...

Ei, Menina!

Tuas coisas serão Rosa.

Teus brinquedos, Domesticáveis.

Tua mãe, trabalhará fora, e chegará tão cansada, e tarde, que já estarás a dormir.

No dia seguinte, vocês também não terão como se ver, pois ela sairá bem cedinho.

Mas não te preocupes, Menina!

A empregada cuidará de ti, enquanto os seus filhos se cuidam, nesta dura estrada, Menina!

A batalha é dura, Menina!

Por mais incompreensível que seja; e as tuas experiências se apaguem pelo caminho, pela dor, Menina; ninguém, intencionalmente, te abandonou; num sistema de determinismos mercantilistas do ser.

Demandando, extensivamente, além de sua capacidade de produção de capital, seja lá este, qual for.

Demandando nos papéis, de acordo com os grupos nos quais se encaixa/é encaixado.

Demandando, quando os conhecimentos sobre qualidade de vida não são o suficiente para se ter uma vida digna!

Ah.... Trabalhadora! Pare de murmurar!

Cadê a tua força de vontade?

E aquela tua capacidade de ser a faz tudo, plena, e sorridente?

Trabalhadora, e dona do lar?

Podes ser o que quiseres! Só depende de ti!

Menina! Mulher! Temente aO SenhOr! Estudante! Doutora! Doméstica não remunerada! Trabalhadora remunerada! Filha! Amiga! Irmã! Namorada! Esposa! Mãe! Amante! Cheirosa! Arrumada! Magra! Saudável! Bem resolvida! Bem amada! Empoderada!

Paciente!,

Quando o teu corpo denunciar todas essas marcas, Mulher!

Serás então, Pesada? Amargurada? Ingrata aos Céus? Pagadora dos teus pecados? Mulher? Exagerada? Hipocondríaca? Cansativa?

Estarás tu, Cansada? Explorada? Inutilizada?

Pois não há mais o que extrair de tua força de trabalho, Mulher?

A culpa é tua, Mulher!

Tanto que escutou sobre os benefícios de se amar! Exercitar! Cuidar! Ser independente! Alimentar bem! Meditar!

E não quis se beneficiar?

Agora choras a tua própria dor!

Engoles o teu choro!

O teu papel é cuidar!

Mulher, velha, e doente!

Depois de te cobrir de Rosa, na tua dura estrada, te encaixotamos, e cobrimos, agora, de flores.

Como sofremos, Mulher!

Tantos benefícios se foram, juntos contigo… Mulher!

Tu eras… uma grande mulher!

Pegavas firme no batente!

Uma verdadeira mulher!

No dia das mulheres, iremos, sempre, te enaltecer!

Ou será que iremos enaltecer, a tua sobrecarga, para continuarmos a depositar, em ti, a nossa carga?

Assim, as nossas costas parecem encurvar menos, gozamos mais do nosso tempo, no qual, podemos fazer mais coisas que nos agradam, e enobrecem socialmente!

E toma aqui este prato pra lavar! Acabei de sujar!

Toma aqui, a minha roupa, e lava! Dela, novamente, vou precisar!

Limpa as minhas coisas, e coloca tudo no devido lugar, pois, assim, será mais fácil quando eu for pegar!

E o parente que adoeceu, ninguém, melhor que tu, sabe, e pode cuidar!

E cadê, não irás, remuneradamente, trabalhar, para as contas, também, pagar?

E os filhos? Não os terá? Para deles, cuidar?

E se tiveres uma menina, torná-la uma grande mulher, como és?

Fez a comida? Estou com fome!

Cadê os teus sonhos, Mulher? Os deixou cair pela estrada?

Como és fraca!

Cadê teus dons? Cadê tua força de vontade? Tua coragem?

Mulherzinha! Mulher.

Guerreira! Heroína! Super Mulher! Uma Grande, Amada, Mulher!

A qual, nenhum Macho poderá macho-machuca-espelhar.

(Oãçierrusser Sotnas Ailáhtan, 13 de julho de 2020)

Oãçierrusser Sotnas Ailáhtan
Enviado por Leah Ribeiro Pinheiro em 09/03/2021
Reeditado em 10/03/2021
Código do texto: T7202919
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