INCOMODA

Chorar para quê,

Se eu sei a causa

Da minha dor,

Que mais me incomoda,

No silêncio da madrugada?

Onde a lembrança renitente

Progride sem mudar de ideia,

Remoendo o meu passado

Como se a minha vida afetiva,

Não escrevesse uma nova história.

Talvez por a memória esquecer

Que o tempo não pára,

E que cada dia é uma higienização

Para se curar sem fingimento

Das desventuras do coração.

Não é que a vida seja impiedosa

Por querer viver no empenho da razão,

Mas a vida a dois só deve continuar,

Enquanto existir respeito e afeição

Para não denegrir o princípio do amor.