Andarilha
Numa caixinha de madeira
Preservava seus guardados
Com as fotos dos bons tempos
E as lembranças do passado
No altar já disse sim
Antes disso embarrigou
Muitas crias já pariu
Mas suas crias, não criou
Perdeu a pouca vaidade
Perdeu a razão pra pobreza
A penúria, no olhar dos filhos
A encheu de vazio e crueza
Seu homem se foi primeiro
Foi procurar um serviço
Se encontrou não se sabe
Pois tomou chá de sumiço
Num gesto desatinado
Num dia chuvoso e frio
Foi pra rua levando a fome
Nunca mais ninguém a viu
Se tornou quase invisível
Nas calçadas onde passa
Conversa com seu passado
E com lembranças escassas
Seguindo a morte pelas ruas
Vai purgando seus pecados
Busca refúgio na pedra
Com olhos esbugalhados
Quando foi, já não se lembra
Que no lixão encontrou
Uma caixinha embarrada
Que soluçando agarrou
Sua vida, sua história
Que a miséria levou