O capenga, o zarolho e o cotó

Lá pelas savanas africanas,

feras um tanto quanto desumanas,

não dão a menor chance,

para as presas que nascem

com alguma deficiência,

atrofia ou qualquer carência

que o valha.

Mas eles não obedecem a nenhuma seita ou crença.

É simplesmente a natureza de cada uma.

Aqui na nossa selva não é muito diferente.

Nós somos um pouco mais tolerantes,

mas nem tanto.

O Tonto é o fiel parceiro do Zorro,

mas é índio.

Tarzan é caucasiano e europeu,

porque os pigmeus foram escondidos

ou banidos, sei lá.

Mas a literatura aceita tudo.

Nós não aceitamos as leis do profeta Maomé,

mas somos muito implacáveis, também.

Não abatemos os que são carentes,

mas violentamos, zombamos, ignoramos,

mas é certo que,

mesmo entre os apóstolos,

devia haver o mais branquinho,

o mais queridinho

ou aquele que se enquadrasse mais aos padrões.

Mil perdões a humanidade deve.

Perdão de Hitler aos judeus.

Dos confusos lusos aos negros.

Perdão às mulheres,

exceto para Maria Bonita,

porque aquela jamais se rendeu.

E de que sexo tenho que gostar?

Quem condena o capenga,

é alguém tão ou mais deficiente que ele;

quem desdenha do zarolho,

nunca se enxergou no espelho

e quem caçoa do cotó é o cego

(de compaixão).

Somos todos irmãos,

mas ninguém é totalmente normal.

Numa ninhada de ratos,

de certo haverá o mais fraco

ou aquele que teima em não propagar

a leptospirose

e se todos nascêssemos cegos,

continuaríamos discriminando pelo faro

e dentre os fedorentos e sem nenhum alento,

o mais sacaneado seria o gambá

e dentre os gambás,

aqueles que tivessem chulé,

seriam os piores.

Aromas e odores.

Sabores e dissabores.

Massarandupió não deve ser pior ou melhor que Paris,

mas onde houver um nariz,

haverá sempre o cheiro e o fedor.

Alegria e dor,

mas sempre mais dor

e talvez seja por isso,

que chove bem menos nos sertões

de alguns muitos corações.