Folias dos reis

Nós, definitivamente,

não aprendemos nada com a história

e confidenciou-me um amigo gorila,

que não gosta de ser comparado conosco.

Somos primitivos demais

e ademais não medimos as consequências futuras

e não colhemos frutas maduras,

porque elas, simplesmente,

não têm tempo para amadurecer.

Administramos o planeta

como se ele fosse só nosso,

rezamos o Padre Nosso,

cada vez mais distantes dos seus preceitos.

Bons sujeitos são bem poucos

e louco é o bonzinho,

que sozinho tenta uma revolução.

A nossa principal característica é o egoísmo,

vindo o cinismo logo em seguida,

como se não houvesse outra vida

ou mais vidas envolvidas

nesse contexto.

Adotamos o pretexto do quanto mais melhor

e 'mais' significa muito, quase sempre além,

do que necessitamos ter.

Almejamos o poder

e não exercemos o poder da humildade,

administramos comunidades, territórios,

populações,

com inteligência, mas não com sabedoria,

de perceber que um dia,

naquele bairro, naquela rua,

em baixo da ribanceira,

haverá alguém em risco,

mas o nosso sono está garantido

e criamos o bandido,

somente para ter o prazer de combate-lo.

Por nada zelamos, não temos zelo,

temos um novelo e a agulha,

mas só costuramos a nossa própria roupa.

É uma situação louca

e o planeta continua aquecendo,

mas enquanto não derretemos,

insistimos que temos o poder

de alterar tudo

e tudo isso graças ao livre arbítrio

que nos foi dado,

mas não damos nada,

tudo nessa vida é cobrado

e o fiado vem com juros altos,

injustos,

mas justiça é o que menos nos importa,

basta apenas abrir a porta

e ver que o nosso tesouro está bem guardado,

bem protegido,

dos maus olhos e ouvidos,

dos que não pensam em acumular,

como os antigos faraós,

em seus túmulos, empoeirados,

aguardando o retorno àquela vida,

de luxo e prepotência,

do poder sobre os outros,

como se não houvesse ninguém acima.

A vida ensina,

mas cadê que conseguimos aprender.

Damos nós e não conseguimos desata-los,

estudamos, mas nada aprendemos

e não compreendemos que a essência está,

em que, se o mundo inteiro for feliz,

muito menos teremos o que fazer

e se aprendermos a construir,

sem muito destruir,

garantiremos o planeta como herança,

em perfeito estado de conservação,

pois comer mais do que o necessário,

é gula, acúmulo de gordura

e depois de descoberto o último território,

aonde vamos morar

e onde colocar todo o nosso mobiliário?

O gorila não sabe plantar

e por isso mesmo não come toda a plantação.

A destruição fica a cargo dos gafanhotos

e é por isso mesmo que fica a dúvida

de com que espécime nos comparar.