Cão vadio
Ladras negro, humilde e valente.
De olhos fumegantes,
De estômago ausente.
Sozinho te fizeste,
Pois que a vida assim te ensinou.
E se te pegas doente,
Mais que depressa
Te fazes acostumar-se,
Posto que és cão,
Humilde mas valente.
Por vira-latas te tomam,
Vadio é teu sobrenome.
Não ligue, vadio é coisa dos homens,
O que apenas sabes é viver
Com todas as forças
Que a vida te exige.
E se te pisam e te escurraçam,
É porque não te querem aceitar
Magro, humilde e deselegante,
Posto que és cão,
Negro, mas valente.
E se te faltam jardins
Em mansões ociosas
Para (preso) correres feliz,
É antes por tua liberdade
E valentia não te permitirem,
Do que por infortúnios
Desse destino canino.
Este não o fez para madames.
O fez sim para as ruas,
Para as latas, para a vida,
Posto que és cão,
Negro, humilde e vadio,
Mas valente.