SOB O TOQUE DA SIRENE

Já era manhã

Quando ela ressoou

Aos quatro ventos,

Assustando os pássaros

Das revoadas sincrônicas.

Eu fitei afora da janela.

A despeito de eu não visualizar o cenário

Sua estridência sempre me bate latente

Vinda de longe, repetitiva

A me decodificar

O movimento inercial das vidas invisíveis.

Já era hora de entrar

Sem portas de saídas...

Só não se sabia

Se era para viver

Ou para morrer mais um pouco,

Sempre Insipidamente.

Lei da vida(?) não se discute.

O tilintar das máquinas

Hipnotiza a dor.

Verso cáustico em pregação continua

Sempre é tortura,

Aonde a “mais valia”

Sempre vale menos,

Quando nunca se vale nada.

A força bruta é única moeda da troca

Sem troco.

A fome,

sempre em detalhe nunca fortuito

Readapta seus sensores de disparo

Porque ao ser Homem

Sempre coube a auto perpetuação

Frente a irrevogável lei:

A da seleção natural

Dentre seus iguais.

Coração e mecânica bruta

Então, amalgamam seus timbres

Na harmonia desarmônica

Das escravidões conceituais.

A música que soa...

É a resultante da sirene mandatória.

Cumpra-se a melodia,

em instrumental raso

Sempre em canto-chão!

Meio dia e eu sei:

Ele se sentou na partitura

Robotizado pela ressonorização da ordem.

Uma pomba o acompanhava

E ambos comemoravam

As migalhas de milagre.

Entre eles nenhuma diferença

Não fosse a possibilidade da pomba

Decolar em canto livre,

para nunca mais.

Mas sei que encolheu as asas

Em sinal de respeito.

Ficou ali,

Em lealdade ao término

Do último pão endurecido de dor oculta

Reverso desprovido de sentido humanístico.

Não demorou a ressoar o

Final do dia

que adentrou a minha janela.

Chegada a hora de ir embora.

Eu também ouvi a ordem

E, em verso, sei que ele ficou ali.

Então,

Nos fiz uma quadra em homenagem

explícita:

Não há como se ir embora

Da clausura robótica

Que paralisa as vidas

que nunca acontecem...