Blasé, mundo!

Ninguém mais se importa com o outro,

o semelhante agora é massa de manobra

nas mãos de quem não se importa com a vida.

Aos poucos o mundo vai se tornando um pouco mais louco

(de verdade), feito a luz que irradia dos olhos do diamante,

antes encravado no seio da rocha e agora arrancado das entranhas da terra, retirado do útero em uma madrugada fria e chuvosa

com ferro de fórceps e força desproporcional.

De dia, a mente, antes manta da sabedoria de outrora, agora

corrompe a verdade em seu jugo próprio,

satisfazendo interesses individuais em detrimento do coletivo.

Totalmente imbecilizada segue colecionando absurdos impalpáveis

e a gente segue pela vida caminhando só para a frente

sem saber o que virá, sem olhar por onde pisa,

só caminhando à revelia, sem perceber o caminho,

como se estivesse em uma trilha cega (de mão única).

Segue sem saber direito, se certo ou errado,

só caminhando pra frente, frente ao presente incerto que se impõe

sempre com medo do futuro impreciso que nos aguarda

e olhando nostálgico o passado que de alguma forma nos condena.

Ninguém se comove com a vida embotada e sem prestígio

dos seres subjugados e marginalizados pela cidade,

condenados desde o nascimento às sarjetas

das piores ruas da metrópole embrutecida.

Tudo é novo e tudo é velho ao mesmo tempo,

e até a dor que deveras sentes no âmago de teu ser

já te indica, ainda que sem saber bem o porque,

o quão estranho anda o mundo, o quão blasé está tudo!

O mundo anda carente de amor ao próximo,

exaurindo uma arrogância de odor extremamente enjoativo

e de tão inconforme, ninguém mais se conforma com essa forma

que começa a se orientar bem diante dos nossos olhos incrédulos.

Será que a cura para a maldade da vida está na dor das pessoas?

Nesse caso a morte então seria mera metalinguagem?

Tipo o antídoto extraído do veneno?

Em nossa própria “peçonha” a cura para todos os males da humanidade...

Será?

Não se sabe ainda aonde tudo isso vai dar.

O negócio é seguir em frente...

Em frente.