Mal do Século (Paródia)

Se eu perdesse o emprego amanhã,

Ao menos teria um milésimo de segundo de consciência sã;

Minha família de fome morreria

Se eu perdesse o emprego amanhã.

Quantas bajulações esquecidas no escuro...

Que promoções hão de porvir

E que bife na marmita!

Eu perdera chorando esta demissão

Se eu perdesse o emprego amanhã.

Que fábrica, Que produção!

Que calmas máquinas enfileiradas a bater o cartão;

Não me caíra tanta falsa felicidade, se eu perdesse o emprego amanhã.

Mas essa estabilidade incerta,

Gestos predeterminados

Metas

Fluxogramas

Setas

Rédeas

Cubículo-cela

Produção!

Mais rápido! Produção!

"-Mais rápido, filho!

Tempo é dinheiro, uma vida não"

...Tudo isso cessaria ao menos

Se eu perdesse o emprego amanhã."

Paródia do Poema "Se eu morresse amanhã", de Álvares de Azevedo

GustavoNascimento
Enviado por GustavoNascimento em 01/11/2016
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