O morro a caráter - O morro black tie

Cercamos o morro!

Até que enfim!

Fechamos o cerco, brasa no estopim!

Barril de pólvora de gente

cesto de maçãs boas e doces

de poucas podres

O sol despeja sobre o morro, manhãs

Mães choram filhos abatidos na noite

alvejados por projéteis reluzentes

Riscaram o céu da favela novamente

Não eram dedos traçando linhas

Não eram formas de uma pintura

Não eram os dedos de Deus, buscando arte...

era a morte insana do movimento de cima

firmando rima, com o movimento no asfalto

Abra os olhos e veja!

Pinte o quadro!

O morro é obscuro, nas bordas...

entradas e saídas...

E por falar em beiras

quem é o porteiro que abre as fronteiras?

Um terno escuro abraça a favela...

abraça e cobre a camisa

que ponto a ponto na costura

é tecido de seda...

é feito de gente muito boa, agarradinha

puxadim a puxadim

Por fim, o que sufoca

são as mãos apertando o nó na garganta

cada vez mais justo, dilacera

faz sangrar...

O que desce do morro, completa a indumentária:

uma gravata vermelha, de sangue

escorrendo pro copo sedento, no asfalto

Porque é lá que vive, cheio de luxo

o vampiro que suga de canudinho

É de lá, a cabeça, por sobre o colarinho

Fechamos o cerco?

Cassio Poeta Veloz
Enviado por Cassio Poeta Veloz em 03/12/2013
Código do texto: T4596850
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