O morro a caráter - O morro black tie
Cercamos o morro!
Até que enfim!
Fechamos o cerco, brasa no estopim!
Barril de pólvora de gente
cesto de maçãs boas e doces
de poucas podres
O sol despeja sobre o morro, manhãs
Mães choram filhos abatidos na noite
alvejados por projéteis reluzentes
Riscaram o céu da favela novamente
Não eram dedos traçando linhas
Não eram formas de uma pintura
Não eram os dedos de Deus, buscando arte...
era a morte insana do movimento de cima
firmando rima, com o movimento no asfalto
Abra os olhos e veja!
Pinte o quadro!
O morro é obscuro, nas bordas...
entradas e saídas...
E por falar em beiras
quem é o porteiro que abre as fronteiras?
Um terno escuro abraça a favela...
abraça e cobre a camisa
que ponto a ponto na costura
é tecido de seda...
é feito de gente muito boa, agarradinha
puxadim a puxadim
Por fim, o que sufoca
são as mãos apertando o nó na garganta
cada vez mais justo, dilacera
faz sangrar...
O que desce do morro, completa a indumentária:
uma gravata vermelha, de sangue
escorrendo pro copo sedento, no asfalto
Porque é lá que vive, cheio de luxo
o vampiro que suga de canudinho
É de lá, a cabeça, por sobre o colarinho
Fechamos o cerco?