Eh, Eh Pai José

Em 5 de Agosto de 1855 estava

Na fazenda Oka

Fazendo o que de costume

A vida me ensinou

Entre palhas e cantigas naquele celeiro

Enquanto linda Joana emitia canções de terreiro

Fez-me lembrar aguçando

Meus sentidos

Do ano em que Pai José fora executado

Tristeza, sangue não vimos

Pois Tia Lê me tampou os olhos

Mas meus ouvidos foram

A porta de entrada para tanto sofrimento

Queria paz e acalento

Você está a perguntar o que ocorreu

Brutalidade, fogo, dor

Vem no íntimo e mexem nas memorias

Esse relato de torpor

Aterroriza a historia

No dia que Pai José

Fora executado por desobedecer

Barão de Ariano que muito

Carrasco não aceitava opnião de negro

Ainda mais em lhe falar o que devia ser feito

Sintonia aqui!!

Não quero mostrar um episodio qualquer

Mas o relatorio de vida

De quem não aguenta mais ver injustiças

1845, dia 30 de Junho

Dor, açoite, fogo e ferro!

Fale! Dor, açoite,ferro e fogo!

Pau!!! Dor, sangue...dentes no chão!

Neste momento Tia Lê já de tanto sofrer

Esqueceu de tapar meus singelos olhos pretos

Que ficaram inertes ao ver tamanhã agressão

-Alcool!!! Oh!! Não!

Nós gritávamos, fazíamos clamores de paz

Mas nada parava aquele homem rude

De roupa já manchada de vermelho

-Oh! Pai José queria ter nascido dantes

Ter tua, ou quase idade!

Pois iria enfretá-lo, lutaria aquela dita capoeira

Que tínhamos como arte

E tiraria-o de tempo, gingando

Lhe jogando ao vento...

Embeberam as roupas de Painho...

Barão tinha um companheiro da maldade

Aquele sorriso estragado, Dorivan,

Adorava sessões de horror

Segurava as cordas ensanguentadas

Gritou em direção a Eru

Para segurar a outra ponta da corda

Que estava amarrada em Pai José

Tronco, dor!

Pôs fogo não em Eru, mas na mãozinha dele

E a chama percorreu rapidamente até...

Os gritos de horror ecoavam no campo

Nós encurralados, clamávamos!

Ouvi Linda Joana, pequenina como eu

Cantarolando baixinho,

Não sei se ela compreendia aquilo

Mas com lágrimas escorrendo do triste olhinho!

- Eh, eh! Pai José

De tanto sofrer

Vai morrer, com fogo

Ferro e dor!

Mostrando como se resiste ao terror

Vencendo as demandas

Eh, eh! Pai José

Cabôco de Atitude

E não tem medo de ser o que é!

Eh, eh Pai José

Eh, oh! Xangô

Com seus leões leve o medo e o horror!

Aquela cantiga nunca saiu de meus ouvidos

Sempre quando tinha medo

Me fortalecia o espirito

No dia 5 de agosto

Negra Joana cantarolava aquelas palavras

De um dia terrivel para a comunidade

Tornou-se um fato para nos ensinarmos a ter fé

E lutar por causas justas

Pai José foi até as ultimas custas

E eu disse compartilha-la-ei

Cenas estas nada breves e marcadas de sangue

Crivada no peito e na historia

De nossos irmãos, e filhos de José de Aiê!

J Di Castro
Enviado por J Di Castro em 31/10/2013
Reeditado em 31/10/2013
Código do texto: T4549657
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