Lavradores 1.

Nos anos 40, 50 e 60 em minha trajetória no campo, a profissão de lavrador era sem dúvida a maior das profissões no Brasil. Com a expansão industrial, o êxodo rural e a modernização agrícola, aconteceu a retirada de milhares destes trabalhadores do campo. Hoje acho que a profissão de lavrador não existe mais carimbada em documentos oficiais.

Em 1961, observando e vivendo à vida sofrida do homem do campo, escrevi em prosa e verso, relatando à vida difícil dos lavradores. Três autoridades foram os signatários: José de Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais na época, Jânio da Silva Quadros que governou o Brasil por sete meses e por fim o Presidente João Belcheor Marques Goulart., o popular Jango..

Embora o foco dos versos fossem os lavradores, também focava para o meio ambiente e o apelo para a Reforma Agrária. Ao Presidente Jango fiz 101 versos imitando cordel, digo imitando, pois quem sou eu para auto determinar-me cordelista.

Selecionei alguns versos e os apresentarei de 13 em 13.

Jampruca de itambacuri,

Deste País altaneiro,

Este recanto de Minas,

Neste torrão hospitaleiro,

Nesse cantinho de mundo,

Esse solo rico brasileiro.

30 de dezembro de 1961,

Ano da astronáutica,

De experiências espaciais,

Prova de cosmonáutica,

Com isso estamos bem,

Só a Rússia tem a prática.

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Desta nossa grande Nação,

Nestes singelos versinhos,

Peço-vos prestar atenção,

Para os pobres lavradores,

Peço a vossa proteção.

Já defendi o Senhor,

Defendi a constituição,

Em Novembro de 55,

Estava em perigo a Nação,

Na quinta da Boa Vista,

Estive de fuzil na mão.

Já faz poucos meses,

Uma carta rimei,

Com 54 versinhos,

Pelo correio despachei,

Para o ex- presidente Jânio,

Sobre os lavradores falei.

Sofre o pobre em toda parte,

Nas cidades ou Arrais,

Nos lugares civilizados,

Ou em centros industriais,

Todos vive no sofrimento,

Mas o lavrador sofre mais.

O lavrador é um sofredor,

Seus filhos também são,

É um pobre analfabeto,

Seus filhos também serão,

Porque em idade escolar,

A escola eles não vão.

O lavrador ali menta mal,

Por causa da carestia,

Comer bem nesta época,

Só o rico tem regalia,

A boia de muitos pobres,

Para comer, o porco chia.

Lavradores tem casa ruins,

Não tem farta alimentação,

Não tem nenhum ensino,

Nem tão pouco proteção,

Passam os piores males,

Sem amparo e consolação.

O lavrador que faz tudo,

Neste rude sertão,

O sol castiga-lhe o lombo,

O calo lhe cresce na mão,

Todo sujo e maltrapilho,

Os pés espalhado no chão.

A coisa que mais fere,

O coração do lavrador,

É ver seu filho morrer,

Sem chamar um Doutor,

Ele reza para N S Senhora,

E implora N S Senhor.,

O lavrador tem muita fé,

Mas cheio de supertição,

Porque sendo analfabeto,

Não estuda a religião,

Tem Deus como protetor,

E o diabo na perseguição.

O lavrador é explorado,

Do negociador ganancioso,

Do larápio e o usurário,

E o esperto ambicioso,

É o patrimônio dos ativos,

E de quem não é escrupuloso

Lair Estanislau Alves. 1’ Parte.