Paisagem urbana
Paisagem urbana
Da janela do ônibus
Vejo a paisagem urbana.
A propaganda no muro,
A placa de contramão.
O guarda apitando,
O ponto de ônibus,
O lotação.
Da janela do ônibus
Vejo a menina
Que passa (com graça).
O andar, o rebolado,
Os olhares, os desejos,
A intenção.
Uma mulher gira a catraca.
Uma criança no colo,
A piedade nos olhos,
E a todos pede atenção:
O desemprego, a família,
O marido,
A vida dura, a dura vida...
Um discurso como tantos,
Solitários e urbanos.
“Deus lhe pague irmãos”
Da janela do ônibus
Vejo a miséria humana:
Barracos, favela, farrapos.
O esgoto, o cheiro,
O lixo.
O homem, o bicho,
O bicho-homem.
Um tiro no escuro.
Um grito, um lamento.
A esperança partiu
Naquele avião que passa,
E saiu pela janela
Dos sonhos
Daquela criança descalça
Que corre atrás da bola,
Atrás de um sonho.
A barriga que cresce,
A criança que nasce.
O bar, a quermesse,
A briga.
Na periferia da cidade
Tudo pulsa:
A febre, o sonho,
A dor, o amor,
A vida e a morte,
A morte e a vida.