Rivanildo entra no ônibus e pede uma passagem

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM http://dacarpe.wordpress.com

Não perguntarei até quando;

todos sabem que provavelmente esta seja sua eternidade.

Não perguntarei porque;

todos sabem quais as mazelas que o fizeram.

Não pedirei em seu nome;

além de cômodo e impossível, todos chorarão histórias tristes para glorificarem o mérito de suas vidas

Afirmarei Rivanildo.

Rivanildo é o seu troco, seu dízimo, sua benfeitoria.

Rivanildo é seu carro zero tetraflex,

é o petróleo pré-sal.

Rivanildo é seu Big Mac, sua Big Coke,

seu Ipod, sua Vuitton.

Rivanildo é a fruta machucada, é o granito,

é a água (trans)lúcida.

É a (es)mola, é a (ignor)ânsia, o (subal)terno.

Melhor é esquecer Rivanildo,

de tanto o que ele é poderá ser o que não será.

Melhor é dormir.

Rezo por ti, Rivanildo, como promessa feita e cumprida.

De que adianta lembrar-te, Rivanildo,

se agora podes estar pronto ou definhando em agonia,

enquanto me preocupo com o calor de meus pés?

Esqueça-nos Rivanlido!

Não se preocupe com a enxada ou com o ônibus.

Vis e oportunistas somos nós! Perigosos!

Até na esmola doada disfarça a esperança da recompensa!

Ninguém pensa em ti,

Rivanildo.

Só a moça que chora te estende a mão.

E ainda prefere abandonar-te,

pra não enfrentar o gigante que carregas nas tuas costas.

Ninguém te quer,

Rivanildo.

Não prestas a ninguém.

Não interessas a ninguém.

Ninguém te dá a mínima,

Rivanlido.

Estás sozinho, e assim

morrerás.

Aguarda tua morte,

Rivanildo,

tua única redenção,

pois nada há de pior do que a pena

de quem te olha,

e somente isso…

PUBLICADO ORIGINALMENTE EM http://dacarpe.wordpress.com

Dacarpe
Enviado por Dacarpe em 07/11/2009
Código do texto: T1909566
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