(rotina sem Tina)

Desperto (morrendo) do sono pesado,

Soturno, lesado, no meio dum charco,

Bem antes do PARE!!! do engenho-operário

Que esquece do horário, mas zomba do galo.

Meus olhos (chorando) só querem dormir...

Mas como dormir sem perder o salário?

Portanto, levanto e me banho a “sorrir”.

— Que droga de vida! Não vai... não vai dar!

Escovo o desgosto no espelho do rosto,

Sorvendo o cansaço (fingindo ser gente).

Me visto, sozinho, mas sinto um abraço...

"Bom dia!" pra Quente, ração com aguinha.

Engulo o café (sem meu Sim!, só farelos)

E penso nos risos, nas férias, paisagens...

— Que droga! Olha a hora! O busão vai passar!

Me ajude, meu Pai, já não posso atrasar!

E beijo as escadas (caindo pra cima),

Em meio aos iguais, aos parceiros de sina.

— Licença, senhora, preciso passar.

Será que essa porta consegue fechar?

E viro sardinha na lata apertada,

Que cospe fumaça e pedaços na esquina.

Depois, grão de terra na férrea minhoca

Que um dia (maldito) saiu do lugar...

— Patrão, me desculpe, não deu pra chegar...

Tentei te ligar, mas sem crédito estou...

Um cano estourou... (muito sangue a jorrar) ...

Me dê outra chance! Eu suporto implorar...

Espalho (embaralho), batalho o que valho,

Mas falho (baralho!) no céu que há de vir.

— Querendo dormir um pouquinho, seu moço?

— Que isso, patrão!? Não me chame de louco!

E volto (revolto) pra luta-trabalho,

Pensando em ceder e no "pobre coitado":

— Patrão desalmado, sovina, paspalho!

Preciso morrer pra ganhar meu canário...

Me afogo no rio que não dá para o mar,

Por horas a fio e sem dar nem um piu.

Com gritos, o apito me manda parar:

— Já pode cessar (por enquanto), meu filho.

Me lanço pra rua que dá para o bar,

Olhando pra Lua que nunca está lá,

E bebo desgraça com sal e limão,

Num certo balcão que me dói de lembrar...

Pensando na Rosa mais linda e cheirosa...

A Rosa que a Vida não pôde ajudar...

Aquela que a Morte não quis perdoar...

Aquela que o Tempo não sabe levar...

Só, volto pra casa cantando calado,

Com passo apressado, trançado, enguiçado,

Perdido (carente), molenga, engraçado,

Sem porte, sem sorte (cem cortes), sem rima.

Enfim, chego em casa, pros braços do quarto

Que nina baratas nas roupas jogadas.

Tropeço na gata e me deito no embalo

Da sorte azarada, que cala a jornada.

E morre outra noite, e renasce outro dia,

E volta a rotina (a mais velha rotina),

Rotina sofrida, rotina da azia,

Rotina (vazia) que faz poesia.