Presente de 30 anos

Fazer 30 anos, há uns 30 anos, era bem diferente de hoje em dia. As mulheres eram dadas ao casamento logo cedo e não ter um emprego era algo bastante comum. Atualmente, espera-se basicamente uma coisa dessa idade: maturidade. Significa que sua vida “tem de estar toda resolvida”, não pode haver falta de nada.

Mas olha eu aqui, depois de 15 anos, escrevendo sobre a mesma coisa: a chuva (meu presente de 15 anos foi tão bom, que me fez sim querer dançar na chuva). Ela sempre mexeu com minhas sinestesias, sempre me envolveu, fazendo-me chorar e sentir falta nem sei de quê. Olha que quanto aos meus sentimentos tenho “entrado numa fria” frequentemente. Há 30 anos era tão mais fácil encontrar alguém que não queira só “passar uma chuva”.

E vou contar um pouco sobre a chuva de granizo, vulgo, dos 30 anos. Caiu de repente, digo que “de paraquedas”, veio depois de uma tempestade de dor (eu já estava tão acostumada com a dor). Sua duração cronológica foi menos de 1 hora, já sua duração psicológica foi como quase uma década. Aquela chuva foi bálsamo para uma grande dor, a dor que se cura com outra dor, como muitos dizem por aí. A tempestade que se cura com chuva de granizo.

Depois da chuva, vem o arco-íris. Não veio, mas isso não fez com que ela deixasse de ser especial. Nem chacoalhou as borboletas do meu estômago...nem deu tempo. Tocou intimamente o meu coração, mas já não se detinha apenas em um desejo, são coisas que a maturidade nos traz, uma fugacidade do que não tem solidez e em contrapartida, uma busca frenética por algo permanente.

Agora não sou mais aquela garotinha que se alegra só porque banhou na chuva, sou uma mulher que deseja as quatro estações. Pulso firme. Forte. Decidida. Sobre meu presente de 15 anos, aquela chuva, ora calma, ora tempestuosa já passou, e nem me questiono mais com o “e se?”. Sobre meu presente de 30 anos, essa chuva durou menos de uma hora, tempo suficiente para apenas me fazer dormir tranquila.

Concluo sobre a chuva, o amor e o presente: se ambos não forem apreciados, de nada servem. E hoje estou aqui aguardando quem queira chegar e viver comigo todas as estações.