A Moça e a Cerveja Preta
Vi uma moça, sem máscaras, que arrastava as sandálias, não sei bem a marca do calçado, me parecia de baixa qualidade ou até reaproveitado, mas o barulho do arrastar denunciava: tinha gente passando por ali.
Era perto de meio dia, ela carregava em sua mão esquerda um pequeno mostruário de acessórios de beleza e correntes religiosas. Na mão direita a moça carregava uma cerveja preta e logo mais à frente tomou um gole, logo depois de ter oferecido, a um evangélico, o que carregava como venda. Não vendeu.
Eu fiquei observando a moça até ela dobrar a esquina, passou por outras pessoas e não propôs venda. Ela, quando passou por mim, também não me ofereceu nada.
O arrastar das sandálias da moça e a cerveja, na outra mão, não lhe oferecia lazer, nem financeira exibição.
O gole na cerveja era um elixir da continuidade.
A moça estava tentando sobreviver.
E aquela cerveja emitia solidão
Aquela moça, meu Deus, era Eu, era Tu, era Ele.
Era Nós, era Vós,
Será eles.
29 de janeiro/2022