Resposta sincera sobre decepções familiares

Todos estes questionamentos que você me traz são perfeitamente conexos

E descrevem exatamente a situação que passei

Por muitos dos anos que passaram

E que, honestamente, agora, sequer são lembrados.

Gritei muito.

Literalmente.

Metaforicamente.

Alegoricamente.

Todas em vão, se considerarmos sua intenção

Mas acertaram em cheio alvos que não estavam a vista.

As perguntas voavam pela minha cabeça

Dando rasantes na pobre criança no meu interior.

Que primeiro transformava dúvidas em interrogações,

Posteriormente em ressentimento,

Que se acumulava aqui dentro

E sufocava o pobre coitado

Que eu tentava ajudar.

Passei por períodos de silêncio

Tanto forçados,

Quanto reforçados por mim

E pelo meu desejo inerente

De que as coisas não fossem assim.

Eu ouvia histórias de terras distantes

Lendas, que não me passavam disso:

Uma mentira solta que reconforta

Aquele que a conta.

Mas o tempo passou, e as lendas se multiplicaram

E não dependia mais apenas das palavras

Já que via-as acontecendo

Com meus próprios olhos incrédulos.

Concluí, então, o único cenário possível

O problema era eu.

E, por isso, me cobrava muito.

Tentava ser maior do que eu conseguiria.

Sabia que minha pele era larga demais para meus ossos fracos

Mas ainda forjava e puxava novos nervos de aço

Que aguentassem a elasticidade desta ironia:

Acreditar ser alguém razoável,

Mesmo que composto por ruínas.

Recorri a subterfúgios questionáveis

Transformei minha casca em meu refúgio

Escondia minha verdadeira face em cantos e vielas

Acostumei-me com o que diziam sujo,

Abracei a ideia do fim;

Cavei meu próprio túmulo.

Ainda me lembro da vista do céu de dentro do meu casulo

Onde as nuvens pareciam destacáveis

E o sol não me esquentava em nada.

Onde não havia vida,

Nem algo que o valha.

Mas um dia.. um dia qualquer,

Que poderia ser tanto uma terça, uma sexta

Na primeira ou na segunda quinzena,

Finalmente entendi o roteiro

E no final daquela cena

Encerrei o meu enterro.

Os personagens agora eram claros como o dia

E eu entendia as motivações por detrás

De cada uma das desconexas ações

Que este enredo me traz.

O protagonista está morto há muito tempo,

Restando apenas a sua linhagem.

Que desceu e desceu, que evoluiu e cresceu

Mas não o suficiente para abandonar

Os vícios de um sangue ruim

Que cada um deles viria a herdar.

Chegando assim onde estamos

Onde finalmente consegui chegar.

No entendimento de que eu não posso fazer nada,

Além de tentar melhorar

Os pontos falhos que me foram passados

Porque foi assim o desenrolar:

As mesmas coisas que tive são versões um pouco melhores

Do que os anteriores eram capazes de passar.

Um cão velho não aprende truques novos,

Mas um novo entende o truque dos velhos,

O suficiente para não repeti-los;

Não ficar aos berros,

Fazendo perguntas que os mesmos não tem respostas,

Levando tudo tão a sério.

É assim porque é

E não está tudo bem, mas também não está de todo o mal

Poderia ser pior:

Eu poderia ser igual.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 10/05/2024
Código do texto: T8060135
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