As Indagações do Corvo

No silêncio da madrugada, na insônia que incomoda,

A cabeça, frágil na racionalidade e em rodopios surreais,

Encontra um obscuro ser em forma de corvo,

O animal do poeta louco americano.

Ele apavora os ouvidos com a lacônica frase:

Há de ser isso e nada mais...

Palavras que incitam íngremes indagações.

A incerta ave, movendo entre as frestas dos meus dissabores,

Abre um oceano de inquietudes ao questionar sobre tudo:

O que te ensinou o silêncio ensurdecedor do universo?

Que o infinito do cosmos consumirá suas carnes em total indiferença?

E o que é ter uma boa vida - o axioma cotidiano

De constituir status social, estável carreira e acumulação de capital?

A tua felicidade está em vestir a pele de Sísifo

Para empurrar a pedra para cima e fazer o

Melhor todos os dias? Mesmo que o rochedo

Role para baixo e triture todos os esforços?

A vida, esta experiência bravissima,

Plenitude abstrata entre choros e alegrias,

Noite profunda rumo ao frio húmus,

Vale a pena ser experimentada e justificada

Mediante toda a imensidão do universo?

É possível gozar ilhas de contentamento

Nas correntes e ondas de sofrimento?

E depois de aniquilar minhas poucas certezas,

O passaro disse: cubra a mente de doces ilusões,

Repousa teus lamentos e o ego repleto de paixões...

Há de ser dessa forma e nada mais!

E assim, aos quatorze anos de idade fui

Dormir ao ter o primeiro encontro com a ave

Do quintal poético de Poe... Desde então ela abala

Meu mundo com pesadas indagações.

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 25/11/2022
Reeditado em 26/11/2022
Código do texto: T7658030
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