Meus pés
Fantasio lembrar-me
os primeiros passos
vacilantes, desajeitados,
impressos nas calçadas
da minha infância.
Cheiros e cores me recordam:
caminhadas ao ar livre
em busca de uma flor,
de algo que se mexa ou role.
Infinitas corridas
de pés descalços e sujos,
sem nunca cansar
de desvendar o mundo a cada dia!
Quantos passos eu já dei?
Quantos morros subi?
Quantas gramas pisei?
Quantos caminhos criei
onde não haviam saídas?
Algumas vezes andei a toa,
noutras sabendo exatamente aonde ir.
Meus pés já pisaram
em areias macias, asfalto quente
e lama.
Para onde vou,
nem sempre sei.
Alguém em mim adora
despretenciosamente e a esmo caminhar...
Tem caminhos
onde meus pés andam
sem o meu comando.
Rotineiras rotas
segunda, terça, quarta
e outra, e outra vez.
Caminhos que escolho
e outros que me chamam.
Tem a caminhada apressada,
sem saber para onde vai.
E tem o caminho longínquo e persistente,
cheio de curvas,
sabores, descobertas.
Tem estradas povoadas de sonhos
alguns sepultados à margem,
outros eternos horizontes.
Outros ainda a se fazerem no caminhar.