Enquanto isso...

Nós vamos embora e a poesia finda

se bem ou má escrita...

Nós vamos embora da rua da nossa infância,

da turma que um dia fizemos parte,

da cidade que sempre moramos,

da casa dos nossos pais,

da bagunça de primos e colchões

na casa dos nossos avós...

Nós vamos embora dos trabalhados temporários que nos sustentam,

dos bancos de madeira da igreja que nos acolhe,

das cadeiras desconfortáveis da universidade,

das camas em que outrora descansamos

ou nos entregamos,

ao movimento natural de um tórrido amor.

Vamos embora da grande turma dos nossos amigos,

da maior parte das pessoas que conhecemos ao longo da vida,

dos nossos próprios filhos,

que passam e serão novas poesias,

nessa terra de certezas vãs.

Nós vamos embora,

e para quem fica temporariamente,

a percepção é que alguns se vão no meio da canção,

outros no primeiro pentagrama,

poucos nos aplausos demorado da plateia,

mas todos se vão

e então resta a saudade...

O que ganhamos ou deixamos de ganhar é o que deu para dar...

E finda:

o que doeu ou alegrou,

o que despejou ou acolheu,

o que alimentou ou não teve para dar,

o que ensinou e aprendeu,

o que escreveu ou viveu

quem era extremo ou meio.

Finda o sorriso e a lágrima,

finda o afeto ou a mágoa,

finda o erro e os acertos,

o ego ou a estima,

a história encontra seu ponto,

a vírgula não é mais respiração,

a nota desbota,

sem sentido fica a palavra dita ou não dita,

no tempo que nunca nos pertenceu,

mas nos acolheu.

E até lá estamos aqui,

vivendo o extraordinário no ordinário,

ou só lutando para sobreviver,

vendo as mazelas ou tentando diminui-las em nosso entorno,

construindo sonhos ou desistindo de outros,

falando sobre o que não nos diz respeito,

ou utilizando da palavra para edificar...

Levantando ou impulsionando alguém a correr,

nos limitando

ou aprendendo a maneira saudável

de amar,

agradecer,

viver

e ser.

Nós vamos embora, mas enquanto isso estamos aqui

e isso deveria ser motivo suficiente

para cuidar dos dentes,

dos joelhos,

da coluna cervical,

dos tornozelos,

e beber pelo menos 2L de água/dia...

O resto se ajeita, ou encontra o seu próprio jeito...

Aqui somos os passageiros!

15/08-21

Keith Danila
Enviado por Keith Danila em 16/08/2021
Código do texto: T7321949
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