O vale
Deus nos fez para o amor genuíno,
ainda que não saibamos o quanto dele pode nos tocar.
O amor que não pede nada em troca
e mesmo assim acolhe e escolhe nos amar.
Do amor que doa sem cobranças, mas escolhe se comprometer.
Do sentimento que nos permite ser,
mas que se prende quanto mais houver liberdade.
Do vínculo que respeita a nossa singularidade,
mas não limita-se ao meio que nos rodeia.
Do compromisso que educa e rompe escuridão
sendo o farol norteador de uma nova direção.
Confiando que a troca transcende as circunstâncias,
quando nosso valor for bem além delas.
Do alto da nossa montanha de vivências,
das nossas crenças e culturas adquiridas,
enxergamos tantas outras também montanhas
e ainda assim somos incapazes de compreender o vale entre elas.
O vale parece tão profundo que as sombras que se formam entre duas personalidades
não nos permite ver que bem abaixo de nós flui liberto e independente um rio cristalino.
Ao meio dia, quando há luz incidente, o vemos, deslumbramos e refutamos a hipótese de que entre nós só há um abismo.
Porque por instantes nossas sombras se escondem,
nos permitindo ver o que os nossos olhos não alcançam
enquanto estamos limitados ao que julgamos ser.
Só que amor não é sobre olhar o abismo,
é sobre estender uma ponte a postos para ser cruzada
sem abandonar o que acreditamos,
do que lutamos,
e do que nos faz por natureza sermos montanhas de vivências.
O amor é construção de uma ponte (não muro),
porque ela nos dá liberdade de ir e vir, cruzar o vale,
confiando que a troca transcende as circunstâncias
quando nosso valor for além delas.
20/05/21