Quarentena não é fácil

Tem horas que fico na varanda

Sento a bunda de um lado na cadeira

Depois viro pro outro lado

As conversas entediosas já se repetem

Dos lugares e das pessoas

Fulano, ciclano, beltrano

Quem fugiu com quem

Quem casou bem

Quem se ferrou (abre aspas)

Parece que o tempo parou

Do relógio só ficou o badalo

De uma lado para o outro

Vai e vem

Vem e vai

E eu ali vesgo, parado.

Nem muda mais a paisagem

Já sei a hora em que a goiaba vai cair

O passarinho vai pousar

O caminhão do lixo vai passar

A noite eu sonho

Vejo um mundo diferente

Uma multidão me cerca

Abraça-me, beijos, aplausos pra todo lado

...Ele voltou novamente...

O sol vem raiando

A névoa vai levando os restos dos sonhos

Livrei-me dos pesadelos

Lembrando dos olhos verdes

Agora é dia

Lá vem o noticiário

Vou contar os contaminados

Os mortos e os remanescentes.

Acho que vou fazer pinturas

Que vão ficar pra história

Olhando pela janela

As ruas vazias que fazem o coração chorar.

O mundo que está aí já não me basta

É preciso ir além

Abrir o portão

E chegar até a próxima esquina.

Respirar o ar puro

E acreditar que tudo é possível

Até sobreviver na distancia de um amor encantado.

Malévolo, um vírus descobriu

As cicatrizes ainda abertas, das feridas mal curadas.

Robertson
Enviado por Robertson em 01/04/2020
Código do texto: T6903901
Classificação de conteúdo: seguro