De Flores e Objetos

Não havia nada naquela terra,

Nem vida nem plantio.

Quem teria coragem para plantar algo ali?

Humm... ninguém.

Terra bruta de mais pra qualquer um habitar.

Até a genitora se afastou.

Sua sequidão, suas dores, seu abandono, sua solidão

Era tudo que ela conhecia.

Às vezes caia chuva,

Ela se esforçava e buscava água,

Mas nada durava, e novamente, tudo de novo.

Um dia, em meio a dores e faltas,

Perdendo o restinho que conseguira com muito ardor,

Entendeu que conquistar coisas e buscar pra si

Não lhe traria nada além de perdas,

Decidiu, então, plantar flores.

Pareceu loucura: Plantar? Flores? Ali?

Ignorou o assombro.

Precisava das flores mais que dos objetos.

Entendeu que as flores trariam os objetos,

E quando não trouxessem, ou quando os perdesse

(isso faz parte da vida)

Não lhe doeria, porque teria ainda, ali, as flores.

Firmou propósito nisso,

Nem que pra isso tivesse que plantá-las literalmente,

Pois viu ali, no meio da dor, que flores ficam,

Objetos sempre se vão.

Marta Almeida: 18/03/2020