O inverno da pele seca
Enquanto espero, ouço alguns passaros cantando na sacada da casa da velhinha que partiu ontem, de sorriso solto e cabelos grisalhos. Os olhos daquela idosa relatavam as lutas vividas. Ela partiu sem anunciar. Não houve choro, não teve doenças. Ela apenas partiu. Fechou os olhos, uniu as mãos e voltou para dentro de si.
Deste momento em diante, quem está aqui não sabe quantas pétalas há nesta estrada para eternidade.
Os pássaros continuaram cantando e o sol, chegava quente e majestoso anunciando o novo dia.
O céu estava num azul celestial incrível, os veículos partiam com seus condures rumos há mais um dia de jornada.
Passei um café, enquanto meus olhos admirava toda a beleza divina do amanhecer.
O sofá da sala ainda estava amarrotado da noite anterior.
Minha boca tem o doce de outrora.
Meu gato miou, enquanto o cachorro do vizinho latia...
A janela permanece aberta desde do dia em que ele resolveu não voltar.
Deste então, minha pele respira os versos do ontem. Mas, meu corpo continua acesso numa melancolia sem fim.
Na mesinha, um papel em branco,uma caneta sem tinta, um cinzero e um maço de cigarros esperando alguém que queira ser tragado, pelos sonhos, pela esperança, pelas promessas que não seram cumpridas apenas, falada diante de uma fumaça acinzentada do tempo.
Respirei fundo, peguei o meu sorriso coloquei à frente de tudo que me compunha e sai com a minha fé inabalável.
As horas passaram como raios em dias de tempestades...