Enquanto não encontrares a morte

Tu, ser maravilhoso,

Que brilha sem ser estrela morta,

Com o tempo verás, a vida torta,

Mas o que importa quando viver é gostoso!?

És bela, inacabada.

Que a inocência resplandece,

E teu espírito se engrandece,

À medida de tua incauculável alçada.

Já contemplas a música boa,

E ouve o som que musica a lua,

Come as cores da tela nua,

E teu próprio som ecoa.

Branca como da lua é o véu,

Olhos negros como a oca do mundo,

Como um suspiro de morte, profundos

Aberta, como um chapéu.

A matemática melhor lhe servirá,

Para pesares os pesares,

Medires as distâncias dos mares,

Dos quais vale velejar.

Que do teu barco possuas o leme

E com leveza possas navegar.

Que em terra tenhas azas

Que te levitem sem sair do lugar.

Oh! minha querida pequena,

Que em tempo algum temas a morte,

Ver e ouvir as sombras, é a sorte,

De poucos na coisa terrena.

Eis que haverás de descobrir,

E negar o que te faz mal,

Serás a imperadora do teu sorrir,

Superarás quem não agua o floral.

Quando dormires teu último sono

Tua existência estará justificada,

Pelas coisas desprezadas e amadas,

Serás então as folhas de outono,

Que enfeitam o chão e o fertilizam

E inspiram poetas tristonhos,

Descontentes pelo pesadelo ou a ausência de sonhos

Pelo bom e pelo mau que lhes infernizam.

Então serás uma brisa,

Que acariciam a alma de um leitor,

Que busca na poesia a cura para uma dor,

Que ao espírito grande agoniza.

Mas enquanto não encontrares a morte,

E dela, não sintas do beijo o gosto,

Amais a vida como um navio o seu porto,

Onde se preenche para depois se deixar.