FECHAM-SE AS CORTINAS

FECHAM-SE AS CORTINAS

Hoje o palco está vazio.

Não há luz que varra a escuridão

para baixo do tapete da minha ilusão.

Esqueci o texto e improvisei num balbucio

meu drama que virou comédia

e fez da minha vida uma tragédia única.

Não há plateia que me aplauda.

As cadeiras azuis meditam verticais

em seus frios e falsos couros.

Pelas alas se alongam os silêncios

de mãos despalmadas e ausentes.

Não há olhares curvilíneos

na expectativa do próximo ato.

Eu sou minha própria cena de fato

que já não enceno há décadas

e que perdida se espalha e se recolhe

como pipocas derramadas sobre os pés.

Nesse palco retraído e de público miserável

foi onde representei reticente a esperança doente

enregelada e gratuita

de um dia poder rever tua face lúcida

nos holofotes da minha memória.

Sou essa peça de um só ator sem roteiro

engolido em seu monólogo

que encerra-se em cortinas espessas

de pesadas pálpebras que se fecham e se consomem.

Mírian Cerqueira Leite

Mileite
Enviado por Mileite em 11/08/2018
Reeditado em 03/10/2019
Código do texto: T6415963
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