O Outro. Absurdo.

Aqui estou eu:

Um cantor sem canções,

Um poeta sem palavras,

Um homem sem histórias.

Nu como querias se não

Ao vento nem a outro homem digo

Mas à tua essência vazia

De tão tamanho absoluto.

É assim que me queres?

Pois bem: sem nome, sem anos,

Sem eu, sem mundo, família,

Sem outros.

Apetite guloso e bem egoísta

Deves ter para me quereres inteiro,

E tão cruel sabendo, do alto

De sua sapiência e poder

Do meu tamanho pequeno.

E ainda dessas tripas, desse

Corpo de desejo. Deste coração

De onde sai a rubra lava

Que não se estanca como queres

Essa cinza e fuligem e fumaça,

Como queres, ah, necromante.

Fernando Munhoz
Enviado por Fernando Munhoz em 19/07/2018
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