O sonho do gado quando ia ao abate...

Por que há, em mim, um abismo que me suga sem destino?

Onde o vento me abasta sem trilhos...

onde perco minha culpa ao silêncio brandindo,

as mesmas súplicas fúnebres ao tempo esquivo

que me zomba feroz num giro menino.

Há um caminho que, diante a mim, não tem início,

mas em seus fins tenciona a desacreditar

nos ventos que teimam a me angustiar.

E sem rabisco, seguindo por esse chão

de inúteis sonhos a chorar

levanto meu rosto ao céu,

clamando ao escuro do ar

encontro Deus, sentado a beira do mar...

seus contornos são frágeis, a essência insondável

os olhos se perdem na solidão, indiferente a mim,

como sou seu indiferente, eternos amigos

num profundo deleite de lágrimas.

Mas me veja, a madrugada se deita sobre nós

e rejeita o grito atroz

saindo vibrante diante de nossa voz...

e o que me espera não é nada

que eu possa lhe oferecer de valor,

faço do ouro palavras fúteis perdidas

entre os olhos abatidos do computador

que não as lêem, lendo, a se desgastar

e os dias passam, sem perceber

que a manhã sem graça vem me dizer...

o amanhã da graça não irá nascer...

e portanto aonde irei me esconder?

Para qual carinho irei me envolver?

Se dos sonhos a pirraça veio me mover,

que do sopro a raça vai se perder

pelos montes que ameaçam me adormecer

na eterna indiferença ao mundo que me fez romper...

da juventude ingrata que me grita sem se deter.