ANUÊNCIA.
“Cada passo na vida é um passo no vazio, no escuro, para o abismo”.
Pois bem!
Mesmo com minhas asas petrificadas, aceito a queda.
Aceito amar todas as cores com as quais a vida retalha meu lençol;
os azuis e cinzas que ela usa para pintar meus dias,
os tons esverdeados plantados para que eu possa dormir.
Aceito amar as variações de rosa que ela espalha sobre minha cama,
os acordes fora de ordem, os vermelhos e as tempestades.
Aceito amar a chuva, o vento e o clarão do raio.
Aceito desmentir-me, afinal, a vida não é deixar de ser?
Tudo se modifica a cada segundo diante dos meus olhos,
Perante os meus gostos.
Nada é permanente. Tudo transita.
Aquela ave filha da puta estava certa!
Aqui tudo corre assim: Nunca mais, nunca mais, nunca mais...
Então, aceito amar todas as minhas penas.
Aceito amar todo o meu rebanho, com todas as diferentes formas de
quadrúpedes.
Melhor! Aceito eu, ser um quadrúpede!
Aceito comer com os porcos,
caçar com as leoas,
espreitar com os guarás.
Se assim meus afetos desejarem; aceitarei ser aracnídeo também!
Amarei e dormirei entre as aranhas e acordarei inchado de veneno.
Espalharei muita dor por todos os cantos por onde andarei
E em todos os cantos que cantarei.