Hino à Vida
Ao galo não comovem os estertores da noite.
E o galicanto revoa avisando que é hora.
Um instantâneo alado cruza a sacada.
Flashes irisados rasgam a escuridão.
Ensonado, o orvalho dilui em gotas
as trevas que se dispersam.
Um movimento aqui,
um grito ali,
um latido acolá...
O aroma do café desce as ladeiras,
vaga pelas ruas e toma conta da cidade.
Vozes vendem leite, pão e sono.
O cuscuz paulista avisa que está passando.
As calçadas se animam
e espiam o movimento que acena:
mochilas pesadas arrastam crianças à escola;
os ônibus vomitam os operários do dia a dia.
O sol, finalmente, aquece toda a cidade:
entra nas casas, penetra nos corpos,
infiltra-se no solo e fecunda a terra.
É a vida que,
abraçada à claridade,
ousadamente se renova.