Sementes jogadas ao vento

Sai semeando por muitas décadas

Semeei em todo tipo de solo

Em solo árido, pantanoso, fértil e pedregoso

E como todo semeador

Sempre acreditei em ter uma grande colheita

Mas nem sempre foi assim

Muitas sementes foram levadas pelo vento

E serviu apenas de comidas aos pardais

Outras se recusaram a rebentar o duro chão

E morreram nas funduras da terra

O coração do homem é um terreno bravio

Indomável e petrificado pelas mágoas existenciais

Não aceita mudança que vem do céu

Há dias que tenho vontade de desistir

Mais eu sei

Que quem põe a mão no arado

Não pode mais olhar atrás

Há dias em que a misantropia inunda meu ser

E quero fugir para lugares remotos

E ter contato somente com a natureza e com os animais

Mas como a Fênix todo dia renasço das cinzas

E continuo a minha missão telúrica

Que é semear a Palavra

Quem sabe um dia, se apenas uma só pessoa

For transformado por esse poder

Valeu todo esforço, valeu todo trabalho, valeu toda lágrima

Há dias que penso que o problema está em mim

Pois muitas vezes jogo muitas sementes ao vento

Mas a sabedoria dos anos me ensinou

A custa de muitos erros e acertos

Que o problema não está nas sementes

E sim no árido solo do coração humano

Que não deixa a semente brotar, florescer e dar frutos

E ganhar as alturas da divindade

Um dia certamente estarei aos pés do maior

Semeador da história

Ele me mostrará que não foi em vão

Fazer semeadura por toda minha pequena existência

Quem sabe para minha surpresa

Ele trará nos braços os molhos dourados e prateados

De uma farta colheita

Que não consegui ver com os olhos da fé

Por isso, não desanimei, jamais desistirei

E vou continuar semeando, semeando, semeando

Pois para semear fui chamado

E não devo me preocupar com nada

Pois resultados da colheita

Tem somente a ver com o Senhor da seara