Lágrima e um verso

Quando no cerrado o silêncio vozeou

De uma solidão, gemendo, todo faceiro

Dentro do coração a dor assim zombou

E ofegou o bafejo do suspiro primeiro

E a sofrença sentiu os olhos rasos d’água

A boca sequiosa, cheia de fel e ardume

Ali brotou a flor da aflição e da mágoa

E no peito, a tristura em alto volume

E no árido chão, por onde ele passava

A desventura espalhava feito sementes

E na terra, o padecer então empoeirava

E germinava com as lágrimas ardentes

Foi então que ali me vi na via dolorosa

Tão chorosa a poesia triste de saudade

Com espinhos e perfume, como a rosa

Num cortejo, fúnebre, sem a felicidade

Enfadando na alma os gritos e soluços

Ia a noite assombrada e não dormida

E os sonhos esfalfantes e de bruços

Avivado, e a tecer a insônia ali na lida

E assim se fez o oráculo sem encanto

E num canto o destino algoz e largado

Entre lamentos e um poetar em pranto

Lágrima e um verso, penoso e chorado

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado

18 de novembro de 2019 – Cerrado goiano

Olavobilaquiando

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https://youtu.be/5uvj5FA8hek

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 18/11/2019
Reeditado em 09/12/2019
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