UM POETA CHORA

A vida escorre pelos dias

Como a água, sobre a rocha, escorre,

A noite cai escura e fria,

Qual escuro e frio leito de quem morre,

A lua brilha, com intenso brilho,

Dourando as gotas de orvalho no capim,

A brisa sopra, ao romper da aurora

A noite geme em seu amargo fim.

Em algum canto um poeta chora...

A relatar, em versos, seu dilema.

Quase em delírio fita-se ao longe...

(Talvez no amor que do porvir lhe acena).

E sobre a folha surgem, então, borrões

(São suas lágrimas que à tinta espalham)

E saem do peito versos e mais versos

Que, de tão tristes, ao seu sofrer os calham.

E nem o sol, com esplendorosa luz,

Tira das trevas o seu coração,

Aquele aceno de falaz promessa

Não o motiva a uma inútil ação...

Já tem no peito chagas e mais chagas,

Conhece a dor que brota do adeus,

Cair com a cruz n'outra desilusão

Talvez não seja um dos planos seus.

Mas é preciso levantar, seguir,

Chocar o peito contra o fio da espada...

Aos poucos os dias lhe carregam a vida,

Mas, fica, em versos, a dor eternizada.

José Marcos Pinto
Enviado por José Marcos Pinto em 06/04/2016
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