SENTIR O SER SÓ

Hoje pensei no meu velho pai e me senti solitário a sua espera.

Abri algumas gavetas restantes no meu coração empoeirado.

E um vento frio no silêncio tangeu as poucas lembranças que restavam no fundo.

Senti vontade de chorar, mas as lágrimas não atenderam o meu apelo.

Culpei o tempo sombrio. Afinal de contas já se vão mais de 25 anos da sua partida.

Ou da minha. Não sei quem foi primeiro.

Interessante, ele ainda mora dentro de mim. É um solitário, sou outro.

Somos como folhas secas ao chão em um terreiro divino.

Meu alimento é sua energia que me faz viver.

Mas, onde ele se encontra no meu ser?

E onde estou se não posso estar com ele?

Percebo que habito nele, mesmo parecendo distante de mim.

Tudo me incomoda. É forte sua presença gloriosa.

Pareço estar acompanhado de uma solidão minha.

Um vento frio me desalma me cobre do vazio profundo.

E o tempo se encarrega de nos dividir.

Maldito tempo, hidrófoba hora da partida.

Mas, será mesmo que ele se foi? Talvez, falte presença dele.

Ou, certamente sou eu que não mais estou aqui, a sua procura?

Preciso entrar dentro de mim e averiguar onde se encontra o meu verdadeiro ser.

A solidão me mata, morro de saudades do meu pai.

Busco refúgio no quintal do meu inconsciente.

Raspei a consciência para afogar-me no meu arquétipo.

É bom sentir na solidão essa presença eterna.

Recorri o inconsciente limitado em busca de esperanças vãs.

Resisti tamanha dor inconformado.

William Augusto Pereira
Enviado por William Augusto Pereira em 20/03/2016
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