Eu Marinheiro

A fragata da Tijuca

Como peça em tabuleiro

Foi descendo a correnteza

Arrastada pelo marinheiro

No porto dos homens

Como se todo aquele planeta

Não passasse de uma vertigem

Como se toda aquela cidade

Não fosse mais que uma favela

No olho do cruzeiro

O barco deslizava pelas águas

Tão frias que ardiam

Em uma cidade tão grande

Que de mim faz invisível

Um reles marinheiro

Perdido entre cem mil léguas

De notas promissórias

De títulos do tesouro

Enterrados por piratas

No jardim do meu quintal

E eu fui dizer pra Deus -

Que tolo eu!

Que o mundo todo é canibal

Minha perna de pau

Até cupim comeu

E o meu olho de vidro...

Que atirem a primeira pedra!...