OUTONO CHEGANDO:
OUTONO CHEGANDO:
As folhas secas, ao vento, não resistem ao redemoinho que as envolvem,
À tarde cinzenta prenuncia a noite fria,
Uma leve neblina começa a descer, sobre a calçada,
Daquela janela, no terceiro andar observo,
Um gato vadio revira o lixo,
No prédio à frente, uma luz pisca,
Por um momento uma silhueta de mulher aparece, encoberta pela cortina lilás,
Uma freada brusca,
Faz-me desatento,
Respiro fundo,
Uma barata corre em direção à cozinha,
Naquele pequeno apartamento, vivo o vazio dos meus dias,
Lembranças vão e vem assim como o piscar da luz,
Uma musica ao longe, me tira daquela letargia,
Pego o paletó na poltrona e saio batendo a porta,
Na mesa do bar a primeira dose desce, amargando as entranhas,
Volto trôpego,
Atiro-me no leito desarrumado,
Meus livros espalhados,
Todas as capas tem a mesma imagem,
Doralice, Doralice, Doralice,
Acordo ao meio dia,
A barata continuava a passear,
Agora sobre os livros,
Na cabeceira da cama,
A metamorfose de kafta continua lá.
(Valmirolino).