O Tempo

Outro dia acordei um pouco mais cedo que o costume. Olhei sob a fresta da janela veneziana e não vi o sol. Não havia frio nem calor, apenas um céu cinzento e escuro que dava sinal de incertezas e sonhos que possivelmente acompanhariam aquele dia.

Não me importei com isto por que meu coração estava tomado de alegria. O êxtase da paixão e do amor que toma o corpo dos enamorados. E, portanto nada seria capaz de me atingir naquele momento, pois naquele exato instante eu era o ser perfeito, inabalável, fenomenal.

Ainda em repouso e meio sonolento pensei como havia me deitado, com o corpo cansado sob o lenço que aos poucos me aqueceu até que adormeci sem perceber. Reclamei da noite que acabara tão de repente. É que ás vezes esta me parecia tão curta! Não demorou muito, e em pouco tempo comecei a sentir nos olhos e no corpo os primeiros raios do sol, dizendo que já é outro dia.

Olho para meus pés e percebo que ainda estou vivo. Um movimento lento para o lado, a preguiça no corpo e a vontade de dormir me vem à tona.

Levantei-me, fiz café, apanhei a chave do carro e sai ao encontro do meu amor. Sempre a via como uma Deusa, pois seu sorriso irradiante aos poucos me contagiava fazendo brotar em mim os sentimentos de menino, principalmente aqueles não vividos quando era criança.

Tudo ia muito bem, até eu perceber a presença hostil de um fenômeno, o qual eu não havia convidado para participar do meu devaneio. Eu já não podia mais querer. Eu não podia desejar. Nada mais fazia sentido, pois o meu maior bem passou a ser ausente. Mesmo próximo eu não podia tocar. Eu nem queria viver.

Aquilo era tão forte e cruel que nem mesmo minha Deusa com seu poder e inteligência conseguia dominá-lo.

Tomou-nos pelos braços sem se importar com a nossa dor e manteve-nos distantes um do outro. Não sabíamos mais a que horas, ou que dia seria mais oportuno para nos vermos. E ela que sempre dizia com firmeza e convicção que ninguém a governava. Viu-se perdida e dominada pelo cruel e senhor de todos os destinos, o tempo.

Deddy Antonio Izottoric
Enviado por Deddy Antonio Izottoric em 16/03/2010
Código do texto: T2141289
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