SEM TER A CERTEZA DE NADA

Uma vez um filósofo prolatou “penso, logo existo”,

Não serei presunçoso de contestar algo que resistiu ao tempo,

E como poderia propor um descarte daquilo que disse Descartes?

Porém, questionaria se o pensar seria a única via da existência,

É claro que, com a referida frase, temos uma existência segura,

A reflexão de que o pensar só vem daquilo que existe,

E há tantas outras coisas mais profundas nisso como a busca pela verdade,

E um descontentamento com a realidade que o cercava.

Mas essas linhas não pretendem buscar a verdade, o certo ou errado, se eles existirem...

É apenas uma expedição sem trilhas e sem mapas,

Que partiu do mundo da observação,

Que poderia ser também a prova de um existir, o observar,

Entretanto, não quero me estender aqui.

Quero dizer sobre outra prova ou quem sabe apenas uma outra ilusão,

Aquilo que nos faz sentir vivos, existir, antes de qualquer compreensão ou pensamento,

E não vamos confundir reação com aquilo que quero contar.

Quero falar do sentir, o que nos toca por si só, seja bom ou mau,

É como um bebê que nasce e sente fome sem que para isso houvesse qualquer reflexão,

Ou como um animal que chora ao se despedir de seu tutor, sem raciocinar ou entender os fundamentos da morte,

Apenas existir e sentir...

Dor, conforto, tristeza, alegria.

Poderiam me contestar dizendo que os conceitos de dor, conforto e qualquer outro sentimento

Existe porque podemos pensar sobre eles, mas ainda que nos furtassem a possiblidade de pensar,

Nosso corpo seria imune a dor ou simplesmente seria limitado a não expressar?

Veja, não é uma apologia ao não pensar, e nem uma proposta excludente uma da outra,

É apenas uma observação, aonde um sentir chega antes da razão,

Que, às vezes, é tão visceral que você sente a existência antes mesmo de pensar nela.

É claro que, por mais pesado que seja o sentir, quando ele é divorciado da razão,

Pode se tornar mais leve, porém mais perigoso.

Será que tem regra para jogar melhor esse jogo?

Ignorar o conhecimento e o aprendizado é tolice,

Se a memoria que na alma poderia cortar, também é a nossa defesa,

Se o pensar não explicar algo ou em sua ausência,

Isso não seria suficiente para rechaçar aquela existência,

Porque o sentir pode existir por si só,

Mas quando em comunhão com o pensar,

Sem dificuldades podemos voar.

Quero levar comigo a capacidade de pensar,

Mas não ao ponto dela me furtar um sentir,

Ora, se o sentimento pode nos enganar,

Será que um pensamento não?!

Então, no fim, quem está mais próximo da suposta verdade,

O pensar ou o sentir?

Como alguém poderia nos responder, se a verdade não é exata,

E o que nos resta é a disciplina da vida, cair, levantar e aprender, mas em cada momento, sentir,

O equilíbrio que somente nós podemos encontrar.

Mas será que o pensamento e a emoção podem mesmo nos enganar,

Ou quando sentimentos e/ou pensamos, por vezes, construímos uma via divorciada da razão e do sentimento, visando justificar conforme pretendemos?

Ah, o agora me levanta mais uma questão,

E aquela vozinha que nos fala ao coração,

faz parte do sentir, do pensar, ou seria uma outra via que teremos que explorar?

Ela se chama razão ou sentimento, loucura ou intuição?

No fim, as sementes do aprendizado, seja pensado ou sentido,

Não superarão os campos férteis de todas as dúvidas que levamos,

Mas permitirá mais um passo para nós,

Afinal, encontrar uma verdade, poderia engessar a evolução,

Crescemos porque buscamos mais,

E se temos uma certeza, é que o conhecimento não será encontrado na via das verdades absolutas,

Pois seria a via mais obtusa,

E por isso, seguiremos pensando e sentindo, e ouvindo o que chamaremos de intuição,

E mesmo que não concordemos, ainda sim, vivemos, existimos e coexistimos,

Aprendendo muito e mesmo assim, sem ter a certeza de nada.