AutoSi, as várias camadas da cebola

Ela se enterrou dentro de um castelo de ilusões

Uma vida que não era sua, uma ela que não era ela,

Nada aqui a abraçava, em nada ali ela se encaixava.

Ainda assim, pelo peso do sustento, pelo peso da vida,

Priorizara a responsabilidade do sustento, fortuna,

Tinha vidas para sustentar, casa pra dar conta,

Se defendia para si mesma.

Aos poucos, foi sua essência, indo-se embora.

Perdeu o brilho, perdeu o cheiro, cheiro de flores frescas de colhidas a pouco,

Passou a cheirar objetos enlatados, lustrosos, brilhantes,

Artificiais.

Sorria: artificial.

Brilhava, e como brilhava: artificial.

Nada ali era ela, nada ali era dela,

A identidade era dos outros, a vida era dos outros,

Perdia um pedaço da alma a cada vez que tinha que se adaptar,

Não fora feita para aquilo.

Um dia, estudando, ouviu falar de identidade e propósitos.

Gastou tempos pensado aquilo e se comparando,

Aquele conhecimento gerou curiosidade

Quis saber quem ela era.

Surpresa, não conseguiu identidade naquele cenário,

Tudo que a identificara estava guardado naquela caixa do seu porão,

Enterrado bem fundo para sustentar seu sustento.

Daí em diante, seus tempos foram passando e se descamando

Como diversas camadas de uma cebola.

A cada camada a mais daquele conhecimento,

Mais uma parte ilusória daquele “ela” caía,

Até voltar a surgir aquela ela originária, sua identidade.

Daí em diante, compreendeu que podia suportar qualquer momento

Fora do seu espeça de identidade,

Só não podia mais deixar de ser ela mesma.

Então, passou a respirar como ela, se mover como ela,

Construir como ela, ousar como só ela,

Porque enquanto ela permanecesse ali,

Sua identidade a moveria ali,

Ela, sua identidade, teria que caber ali,

Ou ela própria não caberia mais.

Marta Almeida: 15/08/2023